Mais de 800 famílias buscaram ajuda em centro de apoio da ALERR para pessoas com autismo

Trabalho diferenciado é o único no Estado com uma equipe multidisciplinar que faz diagnóstico gratuito. – Fotos: Eduardo Andrade/ Marley Lima

O Centro de Apoio à Família (TEAMARR), da Assembleia Legislativa de Roraima (ALERR), que acolhe pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), atendeu cerca de 800 famílias desde o início das atividades há sete meses.

O serviço gratuito prestado pela instituição é um divisor de águas no Estado, pois além do acolhimento, realiza o diagnóstico, terapias e faz o acompanhamento das pessoas com TEA.

Das 800 famílias atendidas, 300 procuraram o TEAMARR para investigar se a criança, adolescente ou até mesmo adulto apresentava sinais e/ou sintomas de autismo. Conforme o relatório, 400 pessoas já tinham o laudo de autista e buscaram o programa da ALERR para ter acesso às terapias de manutenção gratuitas.

Das 300 pessoas que passaram pelo processo de investigação, somente 57 tiveram indicação positiva para TEA.

A presidente do TEAMARR, deputada Angela Águida Portella (PP), ressaltou que o trabalho da entidade é um conjunto de ações que dá suporte aos autistas e às famílias, agregando instituições que contribuem para melhorar a vida das pessoas que necessitam desse acompanhamento.

“Já iniciamos o trabalho ofertando cursos e treinamento. Hoje, temos uma equipe multidisciplinar que acolhe as famílias, mostrando que elas não estão sós. Damos orientação tanto psicológica quanto jurídica sobre os direitos dessas crianças e adolescentes, além de grupos que ajudam na interação, para que multiplique o sentimento de que ‘alguém se importa comigo’”, explicou.

A parlamentar lembrou que o apoio dado às instituições de ensino auxilia os profissionais a lidar com a temática do autismo na prática.

“É um suporte pedagógico importante para que estejam preparados para receber as pessoas com o diagnóstico de autismo. É uma gama de informações e prestação de serviços voltados para esse público, com muita responsabilidade e critério. Um arcabouço para tornar a vida melhor, mas principalmente dar voz e vez aos autistas, e mostrar que precisamos estar preparados para conviver de forma digna com essas pessoas”, afirmou.

A neuropsicóloga Roseane Melvile, que trabalha no Centro de Apoio, destacou a importância desse tipo de trabalho promovido pela instituição.

“Todos agradeceram muito porque essa ajuda fez com que eles fossem diagnosticados gratuitamente e sanassem as dúvidas. Não verificamos apenas o autismo, mas também se há retardo mental, TDAH [Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade], dislexia, transtorno no desenvolvimento e as habilidades. Uma avaliação completa com múltiplos profissionais é muito cara”, avaliou.

Este ano, foram ofertados às famílias os cursos de assistente terapêutico, aplicador terapêutico e de primeiros socorros, além das oficinas de aprendizagem, pedagógica e de brinquedos, que auxiliam no desenvolvimento psicomotor. No total, 245 pessoas foram agraciadas.

Par 2023, há a expectativa de ampliação do atendimento e da oferta de cursos e oficinas. “Tem duas equipes multiprofissionais que atendem de manhã e à tarde e interagem, inclusive, antes de apresentar o relatório de cada área que foi avaliada no paciente. Aqui em Roraima, não tem nenhum local que faça essa avaliação neuropsicológica de forma gratuita. Nem os planos de saúde atendem”, afirmou Roseane.

A recepcionista Ana Paula Linhares, 41, é mãe de Ayan, 13. O diagnóstico dele veio cedo, quando tinha dois anos e oito meses e iniciou o tratamento com as terapias ocupacionais. Mesmo assim, ela conta que ao entrar na adolescência o filho teve dificuldades na escola e foi vítima de bullying por falta da compreensão dos colegas.

“Ele reclamava muito que se sentia sozinho. Foi quando viemos para o centro e começou a participar dos grupos de adolescentes com autismo e a interagir, brincar e se familiarizar com os outros. Estar aqui é maravilhoso, é um projeto bom, acolhedor. Os pais chegam perdidos, mas, com a minha experiência, tento apoiar para que se acalmem. Muitos vêm chorando”, contou.

Ayan Rafael Linhares reconhece que está cada dia melhor. “Comecei a melhorar. É muito bom estar aqui porque interajo bem com os outros adolescentes. A gente se entende, então é supernormal o nosso relacionamento, diferentemente da escola, onde não há muitos autistas nem pessoas com deficiência”, relatou.

O Centro de Apoio à Família tem dois grupos terapêuticos com ações semanais. Um deles é de jovens e adolescentes autistas, composto de 22 participantes, com encontros às terças e quintas-feiras, com várias atividades de incentivo à comunicação, interação social e melhoria da aprendizagem.

Durante esses meses, houve várias atividades em parceria com outras instituições, como palestras com as temáticas correlatas ao autismo, sempre visando esclarecer, orientar, incentivar a inclusão social e divulgar as ações do TEAMARR.

Diversos estabelecimentos de ensino da capital e do interior tiveram palestras com a equipe de multiprofissionais, como a escola Cordeirinho de Jesus, o Colégio Estadual Militarizado Jaceguai Reis Cunha, a Euclides da Cunha, Voltaire Pinto, Fernando Grangeiro, Dom Pedro II, a Universidade Federal de Roraima (UFRR) e a Universidade Estadual de Roraima (UERR).

Um dos destaques dos eventos realizados este ano pelo Centro de Apoio foi a semana em que se celebrou o Dia do Orgulho Autista, que contou com a participação de mais de 600 pessoas. Já o Dia das Mães, reuniu mais de cem famílias. O Coletivo +A, uma parceria com a sociedade civil organizada e o Instituto Federal de Educação de Roraima (IFRR), teve mais de 300 participantes.

Visitas que ajudam

As duas equipes multidisciplinares do centro, formadas por psicólogo, assistente social e enfermeiro, visitaram residências para fazer a busca ativa. Foram 80 visitas com o intuito de identificar a situação de vulnerabilidade social, psicológica e de saúde da família. Além disso, se investiu também no acompanhamento pedagógico em escolas para definir que medidas serão adotadas para adaptar o aluno com autismo às questões sociais e pedagógicas.

O centro atendeu ainda seis casos excepcionais de crianças com autismo que precisavam de intervenção psicológica, social e/ou pedagógica imediata. Também foram identificados casos de depressão em vários integrantes de 14 famílias.

Marilena Freitas

 

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