O Programa de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa (ALE-RR) iniciou nesta sexta-feira, 1⁰, mais uma etapa do projeto “Educar é Prevenir”, de alerta sobre o tráfico de crianças e adolescentes que fazem parte da faixa etária alvo de aliciadores nos ambientes escolares, tanto da capital quanto de Pacaraima e Bonfim, municípios que fazem fronteira com a Venezuela e Guiana, respectivamente.
A unidade contemplada desta rodada foi a Escola Estadual Gonçalves Dias, a 40ª a receber a equipe do Centro de Promoção às Vítimas de Tráfico de Pessoas desde o início das visitas. Durante a semana, a instituição recebeu banners de divulgação, gestores, professores e funcionários receberam capacitação, e os alunos assistiram ao filme brasileiro “Anjos do Sol”, que retrata a exploração sexual e comercial de crianças e adolescentes.
A aluna do 3⁰ ano, Rita Anabelle Santana, de 17 anos, contou que ficou impactada com o filme. Ela ainda acrescentou que conheceu um caso de desaparecimento e que a causa nunca foi descoberta.
“Foi um choque de realidade saber que, realmente, isso acontece, que pode acontecer com qualquer pessoa, e que nosso Estado tem um dos maiores índices de desaparecimento e de tráfico. Ficamos impactados. Infelizmente, conheci uma pessoa que estava a caminho de casa e desapareceu. Depois de um tempo ela foi encontrada morta, não sabemos o que aconteceu, foi um mistério e bastante triste, por isso, na minha casa o assunto sempre foi tratado”, detalhou a jovem.
O aluno Matheus Xavier, também de 17 anos, contou que, para ele, a semana foi produtiva e ficou atento a tudo o que foi repassado.
“Muitos jovens não sabiam sobre o assunto que foi abordado. Então, na minha visão, foi positivo porque pudemos ver a realidade de pessoas que já passaram por isso e ver que nós somos potenciais vítimas disso. Ficamos com receio de saber que alguém pode ter passado por isso [ser aliciado] e não ter dito a ninguém, ter ficado calado”, frisou Xavier.
A Escola Estadual Gonçalves Dias possui mais de 650 alunos, todos do ensino médio. A unidade de ensino já desenvolve projetos voltados à educação sexual e gravidez na adolescência e, antes da primeira visita do centro, a instituição já havia trabalhado com os jovens a temática.
“Essa palestra de hoje teve bons resultados, porque os alunos falaram sobre o que aprenderam. É de suma importância eles serem orientados, porque estamos salvando vidas e eles acabam sendo multiplicadores de informação. O tema não é novo na escola, já foi abordado, mas, como eles ficam, praticamente, três anos aqui e tem essa rotatividade, é um assunto que tem que ser trabalhado sempre”, ressaltou a vice-gestora Marlene Israel Ferreira.
A Polícia Rodoviária Federal de Roraima é uma das parceiras do projeto. Durante sua palestra para os jovens, a inspetora Verônica Cisz destacou que a prevenção é uma das formas de salvar vidas.
“Através dessas informações e de coisas que já vimos nas estradas conseguimos fazer com que eles fiquem mais alertas. Hoje, através de celulares e jogos on-line vemos que esses jovens são assediados. Quando os orientamos, eles passam a enxergar que tudo aquilo que vem fácil demais se deve desconfiar, que os pais e as mães são quem eles devem confiar, e que o isolamento nos quartos também não faz bem”, pontuou Cisz.
O coordenador do Centro de Promoção às Vítimas de Tráfico, Glauber Batista, reforçou que o projeto nasceu, justamente, da preocupação da Assembleia Legislativa em despertar nos jovens a consciência desde cedo.
“Visto que temos suas fronteiras internacionais e uma estadual, somos rotas em potencial tanto para o tráfico no exterior, quanto interno. Então, desenvolvemos o projeto para levar informações importantes para o nosso foco principal de aliciamento, que são as crianças e os adolescentes de Roraima”, explicou Batista.
O projeto
Criado em 2017, o “Educar é Prevenir” tem como foco alertar a comunidade escolar sobre o tráfico de crianças e adolescentes, principais alvos de aliciadores. Os criminosos, na maioria das vezes, se aproximam de suas vítimas com promessas tentadoras de empregos e altos salários no exterior e, assim, as ludibriam com o sonho de melhor de vida.
Outro ponto do projeto é o efetivo empoderamento da comunidade escolar (gestores, corpo discente e docente, servidores efetivos e terceirizados e comunidade em geral), capacitando-os a atuar no enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e suas modalidades no Estado de Roraima, gerando conhecimento, habilidade e mudando concepções e práticas, bem como fortalecendo a parceria com a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed).
Suzanne Oliveira